30.1.06

Procura-se um amigo

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Vinicius de Moraes

Epá, ontem fui a uma festa (a maybe que o diga - agora lembrei-me daquela parte do sérgio godinho "qtas vezes o coração já bateu para nada") e aconteceu cairem-me umas lágrimas quentinhas pela pele gelada - Nevou, pois foi... - no regresso, com a minha sobrinha a dormir atrás no carro, de pensar em mta coisa, coisas misturadas, do género o que é que me aconteceu nestes últimos anos para ter perdido ideais, amores e o sentir a falta deles...? mas não foi só chorar por coisas perdidas, foi sentir como é bom abraçar a maybe e ser amiga dela há tanto tempo, desde que andava na fase hippie com sandálias com solas de pneu (trazidas do Brasil por outra amiga q tb. estava na festa mas a quem é difícil dar um abraço, seja de que maneira for... e porquê?), do tempo em que sabia tocar um bocadinho de viola (o violão, marta, o violão! é lindo o som, e estar em roda - eu e as rodas! - a ouvir alguém tocar: qdo andava no liceu tinha amigos que tocavam muito, muito bem... que pena não estar próxima deles, eles dar-te-iam óptimas aulas ;D), que lia poesia que o Marcelo, professor de filosofia (que também 'tava ontem na festa...) me indicava e me dava sentido às coisas.
Só vos digo... ontem à noite, se tivesse saldo no telemóvel tinha telefonado a todos vocês e dito que precisava de beber umas boémias urgentemente com AMIGOS, ou beber um mate, whatever, rir até doer a barriga ou chorar, não sei, para festejar o ontem ter sentido falta de um amor e ter medo de ter perdido ideais e querer procurar amigos (e encontrá-los) como a nightnday, como vocês cirandeiros primeiros que ainda não a conhecem, como os desnaturados da cheila e do joão que apesar de tudo, detsa frustração de se manterem em sil~encio, aceitaram o convite e me telefonam e voltam a telefonar apesar de eu não atender (sim, joão? please!) para parar de chorar o passado perdido (lembrem-me disto!), deitar na relva, e pensar no futuro, na bata de enfermagem, nos dias de praia em que vamos tostar ao sol e pelados (quem quiser) e depois beber uma cerveja e comer um camarão na comporta ...pois é, isto deve ser um novo tipo de ressaca: a ressaca das boémias não bebidas!

Uma pessoa calminha limitava-se a postar o texto do vinicius, uma pessoa assim como eu comenta-o e conta a vida toda. que é que se há-de fazer? eu sou mesmo assim, eu fui sempre assim, gabriela.