30.1.06

O amor bate na aorta

Cantiga do amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.

Meu bem, não chores,
hoje tem filme de Carlito!

O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei. cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.

Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.

Amor é bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
pronto, o amor se estrepou.
Daqeui estou vendo o sangue
que escorre noc orpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo corpos, vejo almas
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender...

Carlos Drummond de Andrade

1 Comments:

At 02 fevereiro, 2006 10:47, Anonymous Anónimo said...

Aqui fala Martoca. Era para avisar que vou este sabado para a gulbenkian pegar um sol (se fizer), dar uma estudada e uma lida e levo o mate. Quem estiver interesssado em aparecer é só falar(vai ser ai pelas 3 da tarde) e levar um saquinho para sentar no chão...nunca se sabe qd o sr está regando a grama(a Ana sabe que na hora do almoço sim!).É isso então cirandeiros. lembranças

 

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